Para celebrar os resultados alcançados, a troca de conhecimentos e compromissos para a preservação das águas, foi realizado, no último sábado (10), em Belo Horizonte, o Seminário de Encerramento do Projeto Hidroambiental ‘Diagnóstico de Nascentes Urbanas da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Onça’. Ao final do evento, membros do poder público, sociedade civil e usuários assinaram um termo de compromisso garantindo o trabalho de preservação e revitalização das nascentes diagnosticadas.
Iniciado em maio de 2017, o projeto cadastrou 607 nas sub-bacias do Córrego Vilarinho (222), do Ribeirão Isidoro (152) e do Baixo Onça (233). O trabalho consistiu no georreferenciamento das fontes e levantamento das informações visuais mais importantes para permitir a caracterização das nascentes em termos de grau de poluição, estado de conservação e uso dado pela comunidade.
Também foram cadastradas as pessoas que têm a posse ou o domínio da água e realizadas duas campanhas de análise da qualidade da água em 120 das nascentes cadastradas. Tudo isso irá compor o Catálogo das Nascentes Urbanas da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, contendo o resumo do resultado do cadastro. O projeto também incluiu um Curso de Capacitação para o Plano de Manejo Comunitário.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano, fez um discurso emocionado sobre a importância da preservação do território. “A luta que nós temos diária é para não desmatar aquilo que é patrimônio coletivo, para não destruir o que é nascente de todos e para não poluir o rio da nossa cidade. Esse projeto faz parte dessa história que estamos construindo há 20 anos. Proteger nascentes é proteger vidas. Uma sociedade que protege nascentes e cuida do seu rio vai cuidar da sua população”, comentou.
Para firmar o compromisso de preservação e ações de revitalização nessas nascentes, um termo de responsabilidade foi assinado pelo presidente do CBH Rio das Velhas, pelo coordenador do Subcomitê Ribeirão Onça, Eric Machado, pela Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), em nome da representante Marluce Nogueira Quaresma. O acordo prevê que Usuários, Poder Público e Sociedade Civil assumam o dever ético e ambiental para trabalhar na revitalização dos cursos da água e seus territórios.
Presidente do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano (acima). Coordenador – geral do Subcomitê Ribeirão Onça, Eric Machado (à esquerda). Conselheira do Subcomitê Ribeirão Onça e representante da Copasa, Marluce Nogueira Quaresma (à direita). Crédito: Ohana Padilha
Para Eric Machado, é essencial que a população se integre mais sobre os assuntos que envolvem toda a sociedade e entendam das mudanças que são propostas, para que assim possam se posicionar perante uma mudança. “Não adianta culpar só o Poder Público se todos nós somos responsáveis pela não preservação das nossas nascentes, mas não participamos das discussões ou não tomamos conhecimento dos acordos que mudam os rumos do nosso meio ambiente. É mais fácil ajudar quando acompanhamos ativamente as decisões, sejam elas feitas em ONGs, associações ou no Comitê”, ressaltou.
Além disso, o coordenador do Subcomitê Ribeirão Onça reforçou que o projeto é um passo inicial para a revitalização das nascentes diagnosticadas. “O projeto é um primeiro passo para continuarmos trabalhando na preservação das nossas nascentes, mas não esquecendo das obrigações do Poder Público e Usuários para apoiar a sociedade a dar continuidade”, disse.
Já Maria José Zeferino, a Majô, professora e líder comunitária na região, lembrou que o projeto de valorizar os cuidadores de nascentes e revitalizar as nascentes nasceu em 2010, com a apresentação dos dois Subcomitês dos ribeirões mais poluentes da bacia hidrográfica do Rio das Velhas, Ribeirão Arrudas e Ribeirão Onça. “Foi muito doloroso saber que o Ribeirão Onça foi apontado como o mais poluente do Rio das Velhas, mas, nessa caminhada, é gratificante saber que conseguimos mobilizar mais pessoas para a revitalização das nascentes, além de ser identificado mais de 600 novas fontes de recursos hídricos. O que queremos é um rio limpo!”, comentou.
Nascentes cadastradas
A base de cadastramento inicial foi formada com as nascentes já cadastradas na primeira fase do projeto “Valorização de Nascentes Urbanas” e pelo cadastro da Prefeitura de Belo Horizonte. Após esse levantamento, equipe foi a campo para atualizar a base de dados existente e encontrar novas nascentes ainda não registradas
Como parte do processamento das informações coletadas, os dados obtidos foram expostos a outras informações espaciais, como os resultados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, o zoneamento urbano de Belo Horizonte, o mapa das áreas verdes da cidade e o do projeto BH Verde, desenvolvido pela prefeitura, além de realizar duas campanhas de análises em 120 nascentes – 40 de cada sub-região -, o que identificou que a maior parte desses sistemas hídricos encontram-se localizadas em ambientes com grande interferência de seres humanos, estando sujeitos a impactos ambientais, que podem comprometer a vazão e a qualidade das águas.
Nascente do Córrego do Capão, na região do Alto Ribeirão Onça. Crédito: Ohana Padilha
Ainda no encontro
Antes do início do seminário, houve a oficina “Rios Possíveis” com as crianças que estavam presentes. Segundo a integrante do Coletivo as Margens, Isabela Izidoro, é um jogo da memória diferente, que constitui em localizar duplas, que é um rio, córrego ou nascente em duas épocas – atualmente de forma colorida e a outra em preto e branco. “A maior parte dos exemplos são de recuperação e outros de degradação. O objetivo é discutir quais são os imaginários de rios possíveis no contexto urbano, em como, por exemplo como poderia ser o córrego do Capão”, declarou.
Além disso, houve apresentação do grupo Suspiro Poético, formado por alunas das escolas do entorno do Ribeirão Onça, que visa sensibilizar a sociedade por meio da poesia a importância da preservação e revitalização dos rios, córregos e nascentes. E a apresentação das pesquisas “Perspectivas para a gestão das águas urbanas – A construção do espaço público a partir da política das águas: Parque do Onça, território de diálogos possíveis na gestão das águas urbanas em Belo Horizonte/MG”, da Carla Wstane (UFES) e a “Recuperação do Córrego Fazenda Velha/Tamboril: processo participativo para diretrizes do projeto”, da Elisa Marques (UFMG).
Confira mais fotos do evento:
O território
O Ribeirão Onça é um afluente da margem esquerda do Rio das Velhas e tem como principais afluentes o córrego Cachoeirinha e o Ribeirão Isidoro que recebe os impactos diretos da ocupação de Venda Nova e região norte de Belo Horizonte. A Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Onça ocupa parte da cidade de Contagem e da região norte de Belo Horizonte é considerada a que mais polui o Rio das Velhas. Sua bacia abriga mais de um milhão de pessoas e em parte dos 36,8 km de extensão do Ribeirão, tem suas margens ocupadas irregularmente, provocando a degradação ambiental ao longo do curso d’água.
Juntamente com o Ribeirão Arrudas, o Onça encontra-se na região mais populosa da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, em Belo Horizonte, Contagem e Sabará. Os ribeirões Onça e Arrudas são responsáveis pela drenagem da maior parte dos esgotos da Região Metropolitana de Belo Horizonte e sofrem com a diminuição das áreas de drenagem natural e ocupação desordenada de encostas e fundos de vale, devido a sua intensa ocupação.
Mais informações:
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
comunicacao@cbhvelhas.org.br
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