Proteção, cooperação e integração para a biodiversidade do Rio das Velhas
Texto: Renato Crispiniano
Fotos: Lucas Nishimoto, Michelle Parron e Acervo Projeto Manuelzão
A cooperação e integração de esforços entre as diversas entidades são fatores essenciais para minimizar a mortandade dos peixes, melhorar a qualidade das águas dos rios e o monitoramento local da Bacia do Rio das Velhas. Com esse intuito e com o objetivo de valorizar o saber local expresso pelos ribeirinhos, que vivem da nascente à foz do Rio das Velhas, o projeto ‘Amigos do Rio’ inicia uma nova jornada.
Para o biólogo e coordenador do Projeto ‘Amigos do Rio’, Carlos Bernardes Mascarenhas Alves, há três frentes de trabalho: o levantamento realizado pelos amigos, que são moradores e pessoas que convivem diariamente com o Rio, o monitoramento ambiental participativo e o treinamento para os subcomitês.
“Em relação aos Amigos do Rio o importante é que estamos retomando uma iniciativa que vem desde 1999, quando fizemos um primeiro estudo de mortandade de peixes. Além de conhecer a mortandade, a mudança da qualidade da água, a importância desta mobilização é que esses representantes da sociedade estão sofrendo na pele as alterações que o rio vem passando”, disse ao ressaltar que é impossível monitorar as águas com tantos quilômetros com uma equipe apenas. “Se espalharmos esses ribeirinhos em toda a extensão teremos informações reais do que está acontecendo através de pessoas que conhecem e vivem o rio diariamente. A informação que nos será dada é muito real e atual. Essas pessoas, além de terem o treinamento, poderão coletar informações que serão valiosas”.
Carlos Bernardo Mascarenhas Alves é graduado em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela UFMG. Coordena o projeto de biomonitoramento do Rio das Velhas – Amigos do Rio.
A perspectiva do trabalho é contínua e periodicamente serão realizadas coletas de parâmetros numa intensidade que ainda será definida. “O mais importante é o sistema de alerta que será criado. E esse sistema já se mostrou ser mais eficiente que os dados do próprio Estado por que é direto”, esclarece Mascarenhas ao ressaltar que a confiança que os ribeirinhos tem com o Projeto gerou uma relação de segurança.
O Projeto representa para a Bacia do Rio das Velhas mais um movimento de mobilização, de incorporação do cidadão ao ambiente que ele vive e mudança de mentalidade. Para o biólogo, uma mudança de atitude civilizatória, ou seja, o cidadão tem que se sentir parte do ambiente e através da ação voluntária e participação no Comitê e Subcomitês colaborar com a sobrevivência ambiental da Bacia. “Rios onde há mobilização há mais ação”, reforça.
“Tenho orgulho de ser Amigo do Rio”, disse Zélia Aparecida de Assis Viana, moradora de Barra do Guaicuí, ponto extremo da foz do Rio das Velhas. Integrante de uma colônia de pescadores local, Zélia falou da dificuldade de encontrar peixes como no passado. “Muitas pessoas de nossa comunidade mudaram de profissão. Hoje não conseguimos mais peixes como antigamente. Por isso, quero colaborar para que eles voltem e possamos ter nossa renda novamente. Não somente isso, mas quero ver o Rio cheio de vida e os peixes demonstram essa vitalidade”.
No São Bartolomeu, outra ponta da Bacia do Velhas, a professora Pia Márcia Chaves, revelou que há anos participa do movimento. “Com o trabalho que fazemos, percebo que hoje as pessoas têm mais respeito pelo Rio. Devagar conseguimos pela educação das crianças da comunidade desenvolver essa consciência. O Rio das Velhas deu vida ao São Bartolomeu, agora é a vez do São Bartolomeu dar vida ao Velhas”, disse.
Encontro entre ribeirinhos e Subcomitês
Durante o Encontro de Subcomitês, os Amigos do Rio se encontraram com os integrantes dos Subcomitês. Todos se sentiram responsáveis pelo Rio das Velhas. “Os Subcomitês e os ‘Amigos do Rio’ são o Rio que fala. Precisamos de pessoas que falem pelo Rio. Ele não tem voz e, ultimamente, não tem tido vez”, declarou o presidente do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinicius Polignano, ao revelar que o trabalho dos amigos é fundamental, pois nada melhor do que quem está convivendo com o Rio todos os dias para saber como ele está. “Com as informações dos ribeirinhos saberemos o que está acontecendo e iremos cobrar dos responsáveis as melhorias. Não podemos olhar apenas para a calha do Rio, mas sim para todo o ecossistema”.
Os Amigos do Rio se encontram com os integrantes dos Subcomitês.
Histórico
Os Amigos do Rio surgiram com o Monitoramento Ambiental Participativo (MAP), um programa que vem sendo desenvolvido na bacia do Rio das Velhas, desde outubro de 2006. Desde o início das atividades, foram realizadas 15 coletas em 33 pontos, totalizando 495 recolhimentos. Destes, 246 foram feitos pelos Amigos do Rio. Ainda de acordo com o Monitoramento Ambiental Participativo, foi registrada a ocorrência de 18 mortandades de peixes. A maioria teve como principal característica os baixos valores de oxigênio dissolvido; isso impossibilita a manutenção de espécies de peixes por um tempo prolongado. Outras características geralmente presentes nesses episódios são a grande concentração de lixo nos rios, esgoto e presença de óleo na superfície da água.
Em suas atividades no início do programa com a comunidade, o programa realizava, periodicamente, coleta de oxigênio dissolvido, temperatura e pH, que são parâmetros básicos para monitorar a qualidade da água e vitais para a manutenção da comunidade de peixes. Depois, preenchiam formulários que caracterizavam o aspecto da água no momento da coleta e relatavam as alterações quando havia mortandade de peixes.
Da esq. p/dir.:Levantamento de informações com os Amigos do Rio/ Adesão da população ribeirinha ao Projeto é fundamental para o monitoramento do Rio das Velhas.
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