Há dez anos, família ensina tecnologias de construção e cultivo que respeitam o meio ambiente
Quem chega ao sítio Entoá, em Lapinha da Serra, pequeno distrito de Santana do Riacho, na região Central de Minas, recebe um alerta da pequena Flora. “Cuidado, não pisa nos bichinhos”, ela diz, enquanto aponta para os insetos, como mariposas, besouros e borboletas.
É assim que os visitantes são introduzidos a uma família que vive, há mais de dez anos, em harmonia com a natureza, da forma mais sustentável possível. O casal Gustavo Barhuch e Christiane Netto e suas filhas Flora, 4, e Ana Rosa, 7, seguem os princípios da permacultura em casa.
O nome pode parecer complicado, mas a ideia é simples. A permacultura é um sistema aberto de conhecimentos que busca planejar e manter um ambiente como jardim, casa ou vila usando somente o que a natureza e o lixo humano oferecem. Para isso, são utilizadas técnicas de construção alternativas, métodos de captação de água da chuva, purificação dos resíduos usados nos chuveiros e torneiras por meio do uso de plantas e instalação de aquecedores solares.
O sítio, além de ser a morada da família, integra o Instituto EcoVida São Miguel, que tem ainda outro núcleo em São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro, no Jequitinhonha.
Barhuch conta que descobriu a permacultura há 11 anos, quando já havia adquirido o terreno do sítio. “Participamos do Fórum Mundial Social em 2005, em Porto Alegre. Lá, descobri um estande sobre a permacultura. Me apaixonei e fui passar um mês em uma ecovila em Bagé (RS), onde aprendi boa parte do que ensinamos”, recorda.
No início do sítio Entoá, o casal encarou algumas dificuldades. A casa tinha apenas dois cômodos, sem luz nem água, incrustada em uma área de cerrado muito seca e com pouca vegetação. “Eu pegava qualquer lixo que achava na rua e trazia para cá. Portas, janelas, garrafas de vidro, tudo. Com a ajuda de amigos e voluntários, usando apenas material de demolição e o que a terra nos deu, construímos todo nosso espaço”, explica.
Aos poucos, o casal deu forma ao local, com as bioconstruções, que são voltadas para a integração com a natureza. Elas possuem telhados vivos, que usam terra e plantas para manter o isolamento térmico dentro do imóvel. Outras coberturas usam as próprias telhas para captar a chuva, única fonte de água da família. O sítio também tem uma vasta vegetação, com um pomar de 150 plantas frutíferas, adubadas principalmente com os resíduos da família, que vêm da técnica do banheiro seco.
Apesar de parecido com os banheiros químicos usados nos grandes eventos, o seco não tem odor. A serragem usada para cobrir os dejetos, além de ajudar no processo da compostagem, evita o mau cheiro.
“A maior estupidez do ser humano é jogar fezes na água que consome. São necessários tratamentos caríssimos, que poderiam ser evitados com medidas simples, como o banheiro a seco que utilizamos. Nele, nossos dejetos passam pela compostagem, se transformando em adubo. Isso mostra que somos animais, que devemos devolver o que comemos à terra, fechando o ciclo da natureza”, argumenta Christiane.
Os benefícios da permacultura. (Crédito: Jornal O Tempo)
Entenda como funciona a permacultura e o voluntariado.
Veja algumas das tecnologias que podem ser aprendidas com a permacultura.
Saiba mais
Cursos. Os interessados na permacultura têm a opção de aprender técnicas de bioconstrução, como o “adobe” (tijolos de barro e palha) e o “cobwood” (mescla de barro e tocos de madeira). As aulas são ministradas em cinco módulos por ano, sempre aos feriados, por valores que variam entre R$ 400 e R$ 500.
Voluntariado. Também é possível ser voluntário no sítio. Grupos de quatro pessoas passam dez dias vivendo com a família e trabalhando. As atividades variam de acordo com a época do ano, entre o cultivo e o trabalho de construção.
Cosméticos. O sítio produz ainda uma linha de essências, cosméticos e temperos naturais, vendidos para auxiliar na manutenção do espaço.
Conheça. Há, ainda, visitas guiadas, agendadas por escolas e instituições, ou feitas por pessoas que estão no distrito. São R$ 10 por pessoa. Mais informações sobre o sítio em www.sitioentoa.eco.br.
Fonte: Jornal O Tempo
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