No último sábado (16), cerca de 170 moradores de Macacos, distrito de Nova Lima, precisaram deixar suas casas por risco de rompimento da barragem B3/B4, da Mina Mar Azul, pertencente à Vale. Conforme informações do Corpo de Bombeiros, a auditoria se negou a atestar segurança da estrutura e, por isso, foi realizada a evacuação preventiva de 49 residências, que estão incluídas no plano de emergência.

Todo o processo de evacuação e o atendimento da empresa e Defesa Civil à população foi relatado pelo morador do distrito, o biólogo Renato Ribeiro Ferreira, durante reunião do Subcomitê Águas da Moeda, na tarde desta terça-feira (19). Segundo ele, Macacos viveu momentos de aflição e desinformação com o acionamento da sirene, apenas 20 dias depois do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, também operada pela Vale. “Tudo foi um caos. Imagine Macacos num sábado à noite? Cheio de turista. Foi gente correndo, carregando menino debaixo de chuva, descalço, uma bagunça total. E ainda estamos sem informações exatas, com estradas fechadas, sem poder trabalhar, sem poder sair”, contou.

Ainda segundo Ferreira, integrante da ONG ARCA (Associação de Recuperação e Conservação Ambiental) AMASERRA, que possui cadeira no Subcomitê, embora a empresa tenha iniciado o cadastro das pessoas que moram na zona de autossalvamento (região a jusante da barragem que se considera não haver tempo suficiente para uma intervenção das autoridades competentes), a população não sabe ao certo qual o problema e gravidade com as estruturas que os circundam. “Qual o problema que a gente tem? Ninguém sabe dizer. Quanto tempo tudo isso vai demorar? Também não sabemos”, questiona.

O biólogo contou ainda que pretende se mudar do distrito – onde reside com sua esposa e dois filhos – por não ter mais condição emocional de conviver com o medo.

A Vale, que também integra o Subcomitê Águas da Moeda, levou ao encontro três representantes. Sobre a situação da barragem B3/B4, a engenheira geotécnica Joice Gonçalves afirmou que a estrutura possui um laudo que declara a sua estabilidade, emitido em setembro de 2018. “O que aconteceu é que nessa fase de descomissionamento, de descaracterizar a estrutura enquanto barragem, a empresa – que é diferente da empresa auditora – fez uma análise com base nas informações existentes, sondagens, e mudou um pouco o parâmetro do modelo geológico da estrutura. Portanto, numa nova análise, essa estrutura não estava adequada quanto aos parâmetros para gatilhos não drenados – que seria a possibilidade de liquefação. Ou seja, ocorrendo algum gatilho, algum fator externo, em obediência ao fator de segurança, ela não estava adequada”, contou.

Renato Ribeiro Ferreira (à esquerda) revelou os medos vividos no distrito de Macacos, no último sábado. Joice Gonçalves (à direita) minimizou os reais riscos da estrutura B3/B4. (Créditos: Ohana Padilha)

Ela garantiu ainda que as inspeções de rotina promovidas pela empresa não indicam nenhuma anormalidade na barragem. “Não tem nada [de anormal que possa ser observado de forma] visual na estrutura, não teve nível diferenciado na instrumentação dessa barragem, não houve nenhuma ação nessa estrutura que seja diferente dos últimos dez anos, essa estrutura não recebe rejeitos desde 2002, é uma estrutura que a gente chama de desativada, paralisada”. A geotécnica revelou ainda que, no atual contexto, as empresas de engenharia estão sendo mais conservadoras ao emitir laudos de estabilidade de barragens.

Como encaminhamento, os conselheiros solicitaram à Vale que repasse ao Subcomitê – já na próxima reunião da entidade – a situação de cada barragem de rejeitos inserida na UTE (Unidade Territorial Estratégica) Águas da Moeda.

Veja mais fotos da reunião do Subcomitê Águas da Moeda:

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Subcomitês em alerta

Concentrados no Alto Rio das Velhas, outros Subcomitês vinculados ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) também estão preocupados com a situação das barragens de rejeitos de mineração em seus territórios. Na última semana, o tema foi pauta em reuniões do Subcomitê Rio Itabirito, Poderoso Vermelho e Caeté-Sabará. “A UTE Itabirito possui várias barragens instaladas nos municípios e também há barragem em um município que acaba por ter impacto em outro. Dessa forma é importante o Subcomitê ter conhecimento de todas as barragens e possíveis impactos que toda a UTE pode sofrer. Fazer um levantamento; buscar informações com as empresas e órgãos públicos se faz essencial nesse momento. Além disso, trabalhar em conjunto com a defesa Civil de cada município para que seja muito bem entendido os PAEBM [Planos de Ação de Emergência para Barragens de Mineração] e suas manchas de inundação, assim como se darão os contatos e salvamentos”, contou Heloísa França, coordenadora do Subcomitê Rio Itabirito.

Já nas UTEs Poderoso Vermelho e Caeté-Sabará, cujos subcomitês promoveram reunião conjunta na última semana, um dos principais temores é o retorno das atividades de mineração na região da Serra da Piedade pela empresa AVG, com o pretexto de se promover ações de recuperação ambiental no local. “Nosso maior receio é a contaminação e a extinção dos córregos da região, o soterramento de nascentes e o carreamento de minério para os cursos d’água”, contou Júlio Bernardes, coordenador do Subcomitê Poderoso Vermelho.

Na quinta-feira (21), representantes do Subcomitê Nascentes promoverão visita técnica à barragem de rejeitos de ouro da mineradora Jaguar Mining, no distrito de Acuruí, em Itabirito.


Mais informações:

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
comunicacao@cbhvelhas.org.br

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