Desde dezembro de 2018, algumas cidades às margens do Rio das Velhas contam com o Sistema de Alerta de Eventos Críticos (SACE). A plataforma foi desenvolvida pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão ligado à Agência Nacional de Águas (ANA), que tem como objetivo monitorar a alta nos níveis do rio e com isso antecipar ações de prevenção em caso de inundações. Jequitibá, município marcado por alagamentos históricos que já devastaram a cidade, é um dos pontos que tem a estação fluviométrica/telemétrica. Lá, qualquer morador pode observar a variação dos níveis de água através de réguas instaladas às margens do rio.

Aliado a isso, um aplicativo que pode ser baixado no celular (Hidroweb Mobile) revela, em tempo real, todas as informações relacionadas aos níveis dos rios e os volumes de chuva. Atualmente, 16 bacias brasileiras são monitoradas pelos sistemas, que hoje beneficiam mais de 7 milhões de pessoas.

Em Minas, na primeira etapa, as cidades que receberam os dados são Jequitibá e Santo Hipólito – ambas cortadas pelo Rio das Velhas. De acordo com Gerson Lima Alves, hidrólogo da CPRM, o sistema irá operar durante todo o ano, com atenção especial no período chuvoso, que se estende de dezembro a março. “Neste período é montada uma sala de situação, na qual o corpo técnico da CPRM monitora 24 horas por dia, inclusive finais de semanas e feriados, todas as informações enviadas pelas Plataformas de Coleta de Dados Automáticos (PCDs) situadas às margens dos rios “, explica.

Região do Ribeirão Jequitibá, sub-bacia do Rio das Velhas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Os municípios e órgãos locais têm fundamental importância como multiplicadores do sistema, já que estão em contato direto com a comunidade. O acompanhamento é, basicamente, a coleta, armazenamento e atualização dos dados. “Com essas informações, é realizada a sua análise e a elaboração da previsão hidrológica. A disponibilização das informações é realizada de maneira virtual, via site da CPRM, para acesso de todos os usuários e sociedade em geral, dentre eles Corpo de Bombeiro, Polícia Militar e Defesa Civil. Com essas informações, decisões rápidas podem ser tomadas em um possível evento crítico de cheia”, completa.

O alerta é ainda maior quando as chuvas atingem volumes acima das médias registradas. “Nestes casos os órgãos competentes serão informados e passarão a receber boletins com maior frequência, com as previsões para os níveis dos rios nos municípios monitorados. A orientação, ao serem atingidas essas cotas, é que o próprio município passe a observar os níveis da água nas réguas localizadas nas estações fluviométricas. São previsões que ajudam a evitar danos e preservar vidas em eventos de cheias e inundações”, finaliza o hidrólogo Gerson Lima.

Para Poliana Valgas, secretária-adjunta do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) e secretária de Meio Ambiente de Jequitibá, o sistema de alerta hidrológico na bacia do Rio das Velhas possibilita um visão em tempo real dos níveis do rio durante o período chuvoso, visto que o município recebe boletins diários pela CPRM com as vazões das últimas 24h, além das informações disponibilizadas pelo aplicativo Hidroweb Mobile, onde é possível verificar a qualquer momento o nível do Rio das Velhas.

“Jequitibá já sofreu cheias recorrentes e perdas gigantes, na maior delas, a população foi surpreendida durante a madrugada e muitos perderam todos seus pertences. Assim, o sistema de alerta constitui uma importante ferramenta no que tange uma comunicação rápida com a população que pode ser diretamente afetada em caso de cheias”, considerou Valgas.

Ainda segundo ela, é importante que os municípios divulguem e orientem os Conselhos Municipais de Defesa Civil a se apropriarem desta importante ferramenta e incluí-la em seus planos de contingência, visto que, mediante as informações, o poder público poderá tomar decisões mais eficientes e rápidas em caso de grandes cheias. “Trata-se de uma ferramenta fantástica de alerta para os municípios da bacia que estão vulneráveis a cheias, como é o caso de Jequitibá e outras cidades”, finaliza.

 

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Jequitibá, uma cidade marcada por inundações históricas

O primeiro registro de inundação em Jequitibá datado foi em 1808, quando a primeira ponte construída que ligava até a região de Santana de Pirapama foi parcialmente levada pelas águas. Reformada, durou até 1858, quando uma segunda inundação acabou novamente com a travessia.

Quem lembra é o historiador Pedro Henrique de Souza, que tem extenso acervo sobre o município. “Há registros de enchentes de grande porte em 1958 (que aparece no livro ‘Viagem de canoa de Sabará ao Atlântico’, de Richard Francis Burton); em 1976, quando a ponte que ligava a Baldim foi levada; em 1949, 1979 e, a última, em 1997”, lembra.

Poliana Valgas e Pedro Henrique de Souza (à esquerda). Ponte que ligava Jequitibá ao município de  Santana de Pirapama (à direita).

A construção do dique de contenção, em 1988, não foi o suficiente para conter a cheia do Rio das Velhas em 1997. “Ao fim dessa enchente o que se viu foi um cenário de guerra, com algumas particularidades. Quando a água abaixou por completo a cidade estava tomada por uma lama fétida e animais de toda espécie mortos, além de cobras ainda vivas saindo de todos os lugares”, relata Pedro Henrique.

Segundo o historiador, a reconstrução da cidade foi graças a uma força tarefa e muita boa vontade do governo do Estado da época, que não mediu esforços para reerguer Jequitibá. “A partir daí a cidade deu um salto. As pessoas ficaram diferentes após passarem pela experiência de todos se ajudarem, da necessidade de cooperação mútua. Veio a tempestade, depois a bonança”, comemora.

A dona de casa Zilda Martins Lopes, 83 anos, tem viva na memória aquela madrugada de 1997, quando 80% do município ficou debaixo d´água. “Eram 4h e eu acordada esperando a enchente chegar, mas estava duvidando que aconteceria. Fui à casa do meu genro e, quando voltei, a água estava na altura das janelas, com nossos móveis boiando lá dentro”, lembra.

Ela comemorou a ajuda, que veio de todas as partes, na reconstrução da cidade e da vida de quem perdeu tudo durante a inundação. “Fomos abençoados, muita gente, que nem fazemos ideia de quem seja, nos ajudou a reerguer. Mas hoje não temo outra enchente, a água do rio está é acabando, as chuvas estão cada vez mais escassas”, considera Zilda.

Registro de enchente em Jequitiba (à esquerda). Zilda Martins Lopes lembra como foi a enchente de 1997 no município (à direita).

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto e fotos: Celso Martinelli

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