A crise da água despertou a consciência ambiental e tem provocado mudanças positivas de comportamento e gestão

Texto: Natália Fernandes Nogueira Lara

Não há quem desconheça a crise hídrica pela qual o Brasil está passando e os impactos advindos da mesma. O que nem todos percebem é que trata-se mais de uma mudança climática resultante de muitos anos de interferências humanas no meio ambiente do que falta de chuva de modo isolado. A solução não é simples, é uma questão ampla que envolve diversos segmentos e demanda medidas que passam por políticas públicas, gestão das empresas e mudança de comportamento por parte de cada um nós.

Para o coordenador técnico de Meio Ambiente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG), Ênio Resende de Souza, a crise da água na região sudeste é uma novidade a população e com isso muitos desafios se apresentam. A população e a demanda crescem, mas a oferta de água não. “A crise é um fato, ela existe. Isto ajuda o cidadão a tomar consciência do problema. A água é um recurso finito e até o momento as pessoas não tinham muita consciência disso, tratavam a água como ilimitada. A crise acaba tendo um efeito didático”, comenta.

Conforme explica Souza, a gestão da água tem uma equação de dois lados. “O lado da oferta e o lado da demanda. Às vezes as pessoas só pensam a gestão do ponto de vista do consumo, a água que é captada dos rios, das fontes e que chega às residências e empresas. Existe um outro lado, o qual teremos que aprender que é a gestão da oferta”.

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A busca por soluções

Na busca por soluções ou mesmo melhorias, o setor industrial vem se movimentando no sentido de realizar projetos de redução do uso da água bem como o reuso da água, apesar da diferença das possibilidades das grandes, médias e pequenas empresas, conforme explica Wagner Soares, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).

“Nas grandes empresas o reuso da água é questão já bem difundida, bem como o uso racional desse recurso. O uso racional, além de tratar diretamente da questão de economia de água, alcança a redução do consumo de energia elétrica. Já nas pequenas empresas existe uma certa dificuldade tendo em vista a necessidade de capital para investimento nas iniciativas de reuso, assim, é mais viável o uso racional da água e o reuso de pouca incidência de tecnologia e necessidade de investimento, tais como decantação e pré lavagem de peças, por exemplo”, explica Soares.

No sentido de preservação, Soares comenta que setores como mineração e agroflorestal, têm mais oportunidades de trabalhar nessa linha. “No caso da mineração, em que o uso da agua é grande, há muita recomposição da vegetação. Já no setor florestal, existe a intercalação de corredores com plantação de eucalipto. De modo geral, uma boa oportunidade seria a utilização da água de chuva, no entanto temos encontrado poucos casos concretos disso”, comenta o gerente da FIEMG.

“A médio prazo, a solução é exatamente o que as empresas têm feito, com a implementação de tecnologias de racionamento e reuso da água. A longo prazo, precisamos realmente políticas de reservação de água. Este último, tanto no sentido de termos reservatórios de múltiplos usos (retenção de água de chuva); bem como a recomposição da vegetação, principalmente nos topos de morro, para que a água que caia seja infiltrada no solo, ao invés de escorrer”, finaliza Soares.

No meio rural, conforme explica o coordenador da EMATER-MG, também existem exemplos de mudança de comportamento e boas práticas. “O problema da escassez de água vem sendo vivenciado também no campo, o que tem feito com que os produtores rurais adotem novas práticas. Eles sentem hoje a necessidade da proteção e da recomposição de nascentes, o que talvez no passado não fosse tão preocupante. As próprias matas ciliares hoje são alvo de projetos de recomposição com o total apoio dos produtores. Além disso, práticas de conservação do solo estão sendo implantadas com tranquilidade”, exemplifica Souza.

O papel da sociedade e o CBH Rio das Velhas

O gerente da FIEMG comenta ainda a importância da participação da sociedade como um todo na questão da água. “É preciso que cada um comece a promover a sua própria redução e colocar isso como uma atitude, na prática, em casa ou no local de trabalho. Estamos falando de uma obrigação compartilhada”.

Soares destaca ainda a importância do CBH Rio das Velhas nesse processo. “O trabalho que o Comitê faz na mobilização dessa sociedade, estimulando a ser reivindicativa é fundamental. Além disso, o CBH Rio das Velhas tem um comportamento que vem junto com o Projeto Manuelzão, não denuncista, mas sim um trabalho no sentido de identificar o problema e procurar os atores na tentativa de solução”.

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Finalizando, o coordenador da EMATER-MG, comenta a importância de políticas públicas e as parcerias entre os diversos entes, por vezes estimulada pela atuação do CBH Rio das Velhas. “Essas iniciativas são fundamentais, não apenas na questao da punição, mas também no sentido de utilizar a lei no aspecto educativo, como um estimulador de boas práticas. Precisamos melhorar a oferta de água e a gestão do consumo”.

O CBH Rio das Velhas, em parceria com o Projeto Manuelzão e outras entidades, realizará no mês de março a Semana das Águas, quando a sociedade será mobilizada e serão discutidas as iniciativas necessárias e as possibilidades de atuação dos diversos atores que permeiam o tema Água.

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