Após a alteração para o nível 3 – que é o alerta máximo e significa “risco iminente de ruptura” – das barragens de Forquilha I e Forquilha III, da Vale, anunciado em março deste ano, a população de Santa Luzia está apreensiva. Por isso, a Câmara Municipal de Santa Luzia, no Médio Rio das Velhas, realizou uma audiência pública, no dia 30 de abril, com a finalidade de discutir sobre o risco de rompimento de barragens.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano, fez uma apresentação na audiência pública mostrando os estragos que um possível rompimento das barragens Forquilha I, II e III, instaladas em Ouro Preto, das barragem B3/B4, que também teve o nível de segurança elevado para 3, e corre o risco de se romper em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), distrito de Nova Lima, e de Maravilhas 2, em Itabirito e que encontra-se sem garantia de estabilidade. Todas essas barragens são da Vale e, em caso de rompimento, afetariam Santa Luzia e o Rio das Velhas e comprometeriam o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
O vereador de Santa Luzia, José Cláudio dos Santos, explicou que em fevereiro começaram a ser instaladas no município placas nas áreas de risco, indicando as rotas de evacuação para pontos de encontro em locais seguros. “A população de Santa Luzia está em alerta. Queremos saber qual é a real situação das barragens que nos ameaçam e se existe o risco de rompimento. Também estamos preocupados com o abastecimento de água, pois em caso de rompimento de Forquilha I, fomos informados pela mineradora Vale que os rejeitos chegariam ao Rio das Velhas em aproximadamente 12 horas. Após a apresentação do presidente do CBH Rio das Velhas podemos ver o tamanho do problema que estamos enfrentando”, disse.
Três engenheiros da Vale participaram da audiência pública e prestaram esclarecimentos sobre o funcionamento das barragens, método de construção, possíveis riscos e medidas preventivas que a mineradora tem adotado.
Veja as fotos da audiência:
O engenheiro geotécnico, Henrique Penido, afirmou que apesar das as barragens Forquilha I e Forquilha III estarem em nível de alerta máximo, não existe o risco de ruptura. “A empresa responsável pela auditoria das barragens não atestou a estabilidade das estruturas, após o rompimento da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Como elas já estavam em nível 2 de alerta, foi necessário elevar a classificação para 3. No entanto, a Vale criou um centro de monitoramento que funciona 24 horas e monitora as estruturas mais críticas”, esclareceu Penido, destacando que Forquilha I e Forquilha III não apresentam trincas e que por isso não existe o risco de ruptura.
O presidente do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, contrapôs a afirmação do engenheiro da Vale, dizendo que o risco de rompimento é real. “Vamos enfrentar o problema de frente e procurar soluções. O risco de rompimento dessas barragens é real. As estruturas que romperam em Brumadinho e em Mariana tinham estabilidade atestada e, no entanto, ocorreram duas grandes tragédias. Não podemos subestimar o problema”.
Polignano também explicou aos presentes sobre o risco de desabastecimento de água para a RMBH caso o Rio das Velhas seja atingido por rejeitos de mineração. “A nossa preocupação é porque não existem alternativas. Se houver um rompimento, isso significaria levar um mar de lama para a calha do Rio das Velhas. Se a captação de Bela Fama for comprometida, nós não temos um plano B. Toda essa situação cria um cenário de risco real para o abastecimento da Grande BH por tempo indeterminado”, afirmou.
Com a captação de água no rio Paraopeba paralisada, desde 25 de janeiro, o presidente do CBH Rio das Velhas ressaltou a gravidade da ausência de políticas públicas sobre a questão da mineração e do abastecimento de água. “A crise das barragens a partir do rompimento de Brumadinho revela a situação de fragilidade e de ausência de políticas públicas sobre a questão da mineração e do abastecimento de água. A tragédia de Brumadinho mostrou que a Vale não aprendeu com o rompimento da barragem Fundão, em Mariana. E tem nos mostrado a fragilidade de todo o nosso sistema de fiscalização e licenciamento dessas barragens. Não admitimos que um rompimento possa atingir o Rio das Velhas”.
O vereador José Cláudio, ao final da audiência pública, criou uma comissão para discutir sobre possíveis medidas preventivas que possam ser tomadas para evitar uma tragédia em Santa Luzia e no Rio das Velhas.
Santa Luzia
Santa Luzia é um município pertencente à Região Metropolitana de Belo Horizonte, às margens do Rio das Velhas.
Pertence à Unidade Territorial Estratégica (UTE) Poderoso Vermelho que, além de Santa Luzia, possui em sua composição os municípios de Sabará e Taquaraçu de Minas. A UTE possui um Subcomitê que foi criado em 2015 e que luta por uma melhor gestão das águas na região.
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Fotos: Luiza Baggio
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