A convite da mineradora Jaguar Mining, localizada na Fazenda Morro de São Vicente, em Acuruí, distrito de Itabirito, integrantes dos Subcomitês Nascentes e Itabirito, moradores e representantes do poder público municipal foram recebidos na quinta-feira (21) no complexo da mina de ouro Paciência para entenderem como funciona o Plano de Ações Emergenciais (PAE) da empresa e como ocorre o processo de monitoramentos de barragens.
Multinacional extrativista de ouro, que figura entre as principais atuantes no país, a Jaguar Mining atua em três complexos de mineração localizados no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, detém a segunda maior área de ouro no quadrilátero (pouco mais de 25.872 hectares) e emprega em torno de 1.000 pessoas em suas unidades.
Construída no modelo à jusante, a barragem da mina Paciência, onde ocorreu a reunião, está com suas atividades de extração paralisadas desde 2012 e, atualmente, seu barramento é classificada de alto potencial de dano, o que significa que, em caso de eventual rompimento, oferece grandes riscos como perdas humanas, impactos sociais, econômicos e ambientais. Porém a empresa realiza vistorias técnicas diárias, quinzenais, mensais e semestrais na barragem para atestar a sua segurança. Essas vistorias são realizadas pelos próprios funcionários e por técnicos da Diefra, empresa contratada que é responsável pela emissão de relatórios oficiais exigidos, que são disponibilizados no Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM).
Por se tratar de um rejeito que contém cianeto, composto químico altamente tóxico utilizado no processo de extração de ouro em sua forma líquida, durante a reunião um dos participantes questionou à respeito das condições em que o cianeto é enviado para a barragem de rejeito. A Jaguar Mining explica que os valores são muitos altos dentro da usina de beneficiamento, porém o composto químico passa por um processo de tratamento antes do envio do mesmo para a barragem, chegando na mesma com teores mais baixos.
Comunidade de Acuruí e Subcomitês visitam barragem de rejeitos em Itabirito. Crédito: ASCOM Jaguar
Monitoramento da água
Durante a reunião, a empresa explicou que o monitoramento da água é realizado através da rede estabelecida pelo licenciamento ambiental e dois pontos são localizados próximos a barragem . Para que possa ser feito um comparativo, uma coleta é realizada no córrego Tijuco, que não tem interferência da mineradora e a outra no córrego Paciência, curso d’agua que deságua no rio Itabirito, afluente do rio das Velhas. Segundo a Jaguar Mining, o resultado é bastante similar. A análise é feita mensalmente por um laboratório de Paracatu (MG), contratado pela Jaguar. Trimestralmente os resultados são protocolados junto ao licenciamento no Sistema Integrado de Informação Ambeintal (SIAM). “Hoje em dia nossos resultados estão tranquilos. Já temos padrão de qualidade (efluente) para ser lançamento no curso d’água”, explica a empresa, que completa dizendo que a água da barragem também integra o processo de monitoramento.
A angústia de viver debaixo de uma barragem de rejeitos
Há poucos metros abaixo da barragem da Jaguar, o casal de aposentados Cláudia Campos Brasil e Hemut Gunther Jost, passaram a conviver com a angústia de serem vizinhos de uma barragem de rejeitos e não imaginavam que o desejo de morar mais perto da natureza, com tranquilidade e qualidade de vida, pudesse se transformar em uma preocupação constante. “Estamos morando aqui há mais de oito anos e chegamos antes da mineradora. Eu fechei a erosão que tinha no terreno por causa de uma mina de carvão e fui reflorestando. Plantei frutíferas, milho, mandioca e várias outras coisas”, explica Hemut sobre o trabalho de reflorestamento realizado na propriedade.
Na imagem de arquivo à esquerda é possível observar como era o terreno quando o casal adquiriu a propriedade. À direita, a imagem atual mostra como a mata já está se recompondo com o trabalho de reflorestamento. Crédito: Divulgação e Michelle Parron
O primeiro susto veio em 2011, após o rompimento de uma tubulação que levava rejeito contendo cianeto até a barragem da mineradora Jaguar Mining, que atuava no local na época, atingindo o córrego Paciência. “A mineradora bombeava esse cianeto e ela (a tubulação) foi rompida e passou a noite toda jorrando (o rejeito) pra dentro do córrego. As pedras ficaram todas brancas de cianeto”, relembra Hemut mostrando o local onde o rejeito escorreu dentro da sua propriedade.
O casal Claudia e Hemut (à esquerda). Córrego Paciência que já foi impactado com rejeito de cianeto (à direta). Crédito: Michelle Parron
Na época, os moradores se reuniram com a mineradora que esclareceu a situação e as medidas que seriam tomadas em razão do rompimento da tubulação. Ainda não se pensava na segurança da barragem da mina Paciência, mas no envenamento que o composto químico poderia causar por ter atingido o curso d’água.
Com a queda da barragem da Samarco, em Mariana (MG), em 2015, o sentimento de medo passou a fazer parte da vida do casal. O que agravou com o rompimento recente da mina córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG). Durante a reunião, a empresa mostrou o mapa projetado que mostrava a mancha dos rejeitos, caso a barragem sem rompesse, o que causou mais apreensão em alguns dos moradores presentes no encontro. “Pelo que a gente viu hoje na reunião, nós estamos dentro da área de rejeitos. Então vai atingir a minha casa”, relata Hemut.
Sem encontrar uma saída para o dilema de ser vizinha da barragem das Jaguar, Cláudia Campos Brasil, aposentada e esposa de Hemut, explica que lidar com essa realidade não tem sido fácil. “Esse sentimento é terrível. A gente já pensa que, se romper a gente vai correr pra lá (aponta com o dedo). Mas não dá tempo de correr não. E a gente já estava aqui, eles chegaram depois. Não sou eu que eu vim construir a minha casa debaixo da barragem. A casa já estava pronta quando eles chegaram. Nós chegamos antes”, explica Cláudia que, além da segurança da barragem, a qualidade da água também se transformou em motivo de preocupação.
Diante dos moradores, durante a reunião os funcionários da mineradora afirmaram que, em duas semanas, será iniciado um trabalho de levantamento das áreas que poderiam ser atingidas pelo rejeito, caso ocorra uma ruptura. Também foi sugerido a casa de Cláudia e Hemut, moradores vizinhos da barragem, como potencial ponto para recebimento da sirene, que poderá ser confirmado após conclusão dos trabalhos.
Um modelo que precisa mudar
A tecnologia de exploração mineraria está sendo combatida firmemente pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) e pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (CBH Rio Paraopeba) desde 2015, após o desastre com a mina da Samarco em Mariana (MG). Naquela época, foi elaborada uma moção em solidariedade ao rio Doce e suas vítimas que trata da importância de rever o modelo exploratório adotado na mineração no Brasil.
Com o desastre recente com a mina da Vale, em Brumadinho (MG), mais uma vez foi redigida uma nova moção em solidariedade ao rio Paraopeba e suas vítimas, solicitando que, além de rever as técnicas de mineração, era necessário impedir que sejam implantados empreendimentos próximos às comunidades, ameaçando vidas.
Atualmente a mina de ouro Paciência, da Jaguar, está com seu funcionamento paralisado. Caso decida voltar a operar no futuro, terá que passar um novo processo de autorização para retomar as atividades.
Segundo Ronald de Carvalho Guerra, conselheiro do Subcomitê Nascentes, o CBH Rio das Velhas está trabalhando com a missão de romper o atual modelo de mineração. “Caso algum empreendimento volte a funcionar, a gente vai lutar para que não seja no modelo que era de barramento. Barramento à montante jamais. E se vai fazer barramento, tem que ser onde não tenha populações em risco para que a gente não conviva com a situação novamente “, afirma o coordenador.
Para Guerra, o dano ao rio das Velhas é muito significativo caso a barragem se rompa. “Vai gerar danos econômicos e inviabilizar a barragem por um tempo imenso. E não temos nem a noção de quantas pessoas podem morrer num acidente desses”. Na oportunidade da reunião, o conselheiro também explica a importância de a Jaguar manter um representante nas reuniões do Subcomitê Rio Itabirito, já que há algum tempo a empresa não frequenta os encontros do Subcomitê.
Veja mais fotos da reunião e da região:
Veja a apresentação:
Para saber mais sobre a região de Acuruí, leia o texto Conheça e Preserve, que trata as belezas e potencialidades da região onde está localizada a UTE Rio Itabirito.
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Michelle Parron
Fotos: Ascom Jaguar/Divulgação/Michelle Parron
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