O Rio da Velhas, responsável por 70% do abastecimento de água de Belo Horizonte e por metade da Região Metropolitana, enfrenta uma das piores crises hídricas dos últimos tempos. No período de estiagem de 2019, o rio – no ponto de captação da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) no Sistema Bela Fama, em Nova Lima – atingiu a vazão de 8 m³/s, a pior da história. O menor valor encontrado anteriormente foi em 2017, com a vazão de 9,2 m³/s e em 2014 com 9,6 m³/s.

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) elaborou um relatório sobre escassez hídrica que mostra que apesar do período de estiagem ser recorrente, várias situações agravam a escassez de água no curso d`água em 2019, o que o colocou em estado de restrição de uso.

Além da falta de chuva e do calor excessivo, que faz o consumo de água dos moradores aumentar, o desastre ocorrido em Brumadinho, com o rompimento da barragem de rejeitos da Vale, também fez aumentar a insegurança hídrica. Isso porque a lama afetou parte da captação oriunda do rio Paraopeba, que abastece 30% de BH – os outros 70% são fornecidos pelo Velhas.

“O rio está sendo sacrificado. Isso, inclusive, é uma consequência desse efeito colateral do rompimento lá em Brumadinho. Estamos retirando a carga máxima de água do Rio das Velhas no período de estiagem. Para se ter uma ideia, o rio está passando na estação Bela Fama, em Nova Lima, com uma vazão média de 9 m³/s, e praticamente estamos tirando 7 m³/s. Ou seja, está faltando água para o rio. Está faltando rio”, diz Polignano.

Ainda de acordo com o relatório sobre escassez hídrica, a perspectiva para outubro não é de melhora significativa, visto que a previsão de chuva para o último trimestre do ano encontra-se abaixo da normal, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (INMET). Esse fator, somado ao aumento no consumo humano nesse período de aumento de temperatura, resultam em um déficit no balanço hídrico, fundamental para manutenção da resiliência do rio.

Restrição hídrica

Por causa das baixas vazões no Rio das Velhas, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) publicou, no dia 18 de setembro, uma portaria restringindo a captação de água em 43 municípios, sendo 14 na Grande BH. Com isso, a retirada do recurso hídrico no Velhas deverá ser reduzida em 22% para o abastecimento público, consumo humano e de animais.

O decreto, na avaliação de Polignano, não resolve o problema do Rio das Velhas. “Estamos ficando sem água para o rio ao longo do tempo. Então, temos que tomar uma atitude. A população também pode colaborar neste momento crítico, tendo um consumo mais consciente, reduzindo o consumo de água nas atividades diárias”, afirma.

Conforme o Igam, a situação crítica em parte do Rio das Velhas foi identificada via monitoramento dos níveis do leito, que apontaram vazões abaixo de 70% da referência Q7,10. Tecnicamente, trata-se do índice que orienta a autorização de uso dos recursos hídricos em Minas. Ele representa a vazão mínima que ocorre no curso d’água durante sete dias consecutivos, em um período de 10 anos.

Com a medida, um total de 224 usuários detentores de outorgas, e que estão situados ao longo de 43 municípios, são afetados. Entre eles, a Vale, a Odebrecht, a Ambev e a ArcelorMittal passam a ter captação de água reduzida em suas operações. A Copasa e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) também ficam prejudicadas.

Belo Horizonte, Lagoa Santa, Sabará, Ouro Preto e Sete Lagoas, na Região Metropolitana de BH, Datas, Curvelo e Jequitibá, na Região Central, estão entre as cidades em que a Portaria se aplica.

Do total de usuários com restrição na porção da bacia, 38% são referentes a consumo industrial e mineração, 35% para irrigação, 22% abastecimento público, consumo humano e dessedentação de animais, e 5% demais usos.

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Fotos: Bianca Aun, Ohana Padilha e equipe de mobilização

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