O rompimento da barragem Fundão da mineradora Samarco, no dia 5 de novembro, na unidade industrial de Germano, entre os distritos de Mariana e Ouro Preto (MG), provocou uma onda de lama.

O distrito de Bento Rodrigues foi destruído e centenas de pessoas ficaram desabrigadas. A lama alcançou outros distritos de Mariana, como Águas Claras, Ponte do Gama, Paracatu e Pedras, além da cidade de Barra Longa. Até o dia 25 de novembro, 11 mortos haviam sido identificados e 12 pessoas ainda estavam desaparecidas, entre elas nove empregados terceirizados da Samarco e três moradores de Mariana. Os rejeitos foram levados pelo Rio Doce, afetando ainda dezenas de cidades na Região Leste de Minas Gerais até o Espírito Santo, com a falta de água potável. E no dia 22 de novembro, a lama chegou ao mar, no município capixaba de Linhares.

O presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano, explica os impactos ambientais na Bacia do Rio Doce. “A maior parte dos danos causados pelo rompimento da barragem serão permanentes. Os 60 bilhões de rejeitos de minério de ferro que formaram o mar de lama mudou o ecossistema por onde passou. O que existia antes desta tragédia não existirá mais. Como a lama é muito densa ela faz uma espécie de pavimentação por onde passa destruindo a biota. Os impactos são de uma magnitude absurda”, explica.

Veja fotos de satélite do antes e depois do rompimento da barragem do Fundão

satelite rompimento barragem mrianaImagens mostram a dimensão da destruição provocada em Bento Rodrigues – Crédito Digital Globe/Divulgação

Rio Doce

Transformado em uma correnteza espessa de terra e areia, o Rio Doce não pode ter sua água captada.

Para Marcus Vinicius Polignano, um dos mais graves efeitos do despejo do rejeito nas águas é o assoreamento de rios e riachos, que ficam mais rasos e têm seus cursos alterados pelo aumento do volume de sedimentos. “É algo irreversível. Não existe remediação para o caso da lama nos rios. Não tem como retirá-la de lá”, esclarece.

Enquanto está em suspensão no rio, a lama impede a entrada de luz solar e a oxigenação da água, além de alterar seu pH, o que sufoca peixes e outros animais aquáticos. A força da lama ainda arrastou a mata ciliar, que tem função ecológica de dar proteção ao rio. A perda da biodiversidade pode demorar décadas para ser reestabelecida. E isso ainda vai depender de programas montados para esse fim. Também existe a possibilidade de espécies endêmicas (que existem só naquela região) serem extintas.

Mariana entra para a história como uma “ferida aberta”, diz Polignano. “É a prova de que nossa gestão ambiental precisa ser melhor desempenhada.”

 

Expedição pela Bacia do Rio Doce

O presidente do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, juntamente com uma equipe de pesquisadores do Projeto Manuelzão da Universidade federal de Minas Gerais (UFMG), composta por biólogos, botânicos geólogos e geógrafos, percorreu parte da Bacia do Rio Doce para avaliar a extensão dos danos ambientais causados pelo rompimento da barragem Fundão da Samarco. A equipe ficou impressionada com a proporção dos estragos ocasionados e com a dimensão da tragédia.

Para Marcus Vinícius Polignano, os rios que não foram afetados pelo rompimento das barragens e que são afluentes do rio Doce podem ajudar a salva-lo. “Um caminho para salvar o Rio Doce é investir nos cursos d`água que ainda possuem qualidade e quantidade de água para que eles ajudem a fazer a remoção gradual do resíduos que acontecerá ao longo de décadas. Não podemos esperar milagres desse processo que será extremamente demorado.

 

Barragens no Rio das Velhas

De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) existem 46 barragens de rejeitos na Bacia do Rio das Velhas.

O Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH) do CBH Rio das Velhas possui as Agendas (laranja, cinza, azul, verde e marrom) que descrevem a situação atual das principais atividades na bacia. A Agenda Cinza dispõe sobre a mineração. Esta agenda mostra o percentual das áreas de mineração nas áreas totais das Unidades Territoriais Estratégicas (UTE’s) da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas.

O PDRH prevê as seguintes ações para a Agenda Estratégica Cinza:

– Limitar o impacto negativo da atividade de mineração especialmente sobre os recursos hídricos subterrâneos, em função da sua maior concentração em UTEs na bacia com maior criticidade em termos de águas subterrâneas;

– Assegurar que outros usos possam ter assegurada sua sustentabilidade em termos de recursos hídricos, em especial os usos para conservação e os usos racionais para ocupação urbana;

– As ações executivas previstas no PDRH estão organizadas hierarquicamente com vistas ao controle de carga poluidora, erosão e segurança de barragens relacionadas com as atividades do segmento de mineração e com a recuperação de áreas degradadas.

 

Veja o mapa de localização das barragens na Bacia do Rio das Velhas

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Rompimento de barragem em Itabirito em 2014

No dia 10 de setembro de 2011, uma avalanche de lama deslizou sobre trabalhadores, caminhões e tratores, depois do rompimento de uma barragem de rejeitos de minério de ferro em Itabirito, a 55 quilômetros da capital. O rompimento da barragem deixou Minas Gerais em alerta sobre a segurança de seus mais de 700 reservatórios. O acidente na área da Mina Retiro do Sapecado, operada pela empresa Herculano Mineração, deixou seis pessoas soterradas – três delas morreram – e provocou graves danos ambientais em córregos da Bacia do Rio das Velhas.

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Trecho do Rio Itabirito poluído pelo rompimento da barragem da Herculano Mineração – Arquivo CBH Rio das Velhas – TantoExpresso (Michelle Parron)

Além de Itabirito e Mariana, Minas Gerais registrou outras três grandes tragédias decorrentes do rompimento de barragens de rejeitos nos últimos quinze anos. Em 2001, cinco pessoas morreram no distrito de São Sebastião das Águas Claras, mais conhecido como Macacos, em Nova Lima, após o deslizamento de toneladas de lama da Mineração Rio Verde. Além das mortes, o acidente provocou danos ambientais como o assoreamento do Córrego das Taquaras. Dois anos depois, uma barragem de rejeitos industriais se rompeu em Cataguases, na Zona da Mata, liberando 1,2 bilhão de litros de lignina – resíduo da produção de celulose – nos rios Pomba e Paraíba do Sul. O caso, que afetou mais de 500 000 pessoas na região, é considerado um dos maiores desastres ecológicos do país. Em 2007, cerca de 4.000 moradores das cidades de Miraí e Muriaé, também na Zona da Mata, ficaram desabrigados por causa das inundações resultantes do vazamento da barragem da Mineradora Rio Pomba Cataguases. Plantações e pastagens foram destruídas e o abastecimento de água ficou comprometido em cidades mineiras e fluminenses.

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Marcus Vinícius Polignano em vistoria os rios e córregos de Itabirito onde aconteceu o rompimento da barragem B1 da Herculano Mineradora – Arquivo CBH Rio das Velhas – TantoExpresso (Michelle Parron)


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