Córregos Vilarinho, Ressaca, Ferrugem e Gorduras, Ribeirões Arrudas e Onça. Estes são apenas alguns dos muitos cursos d’água de Belo Horizonte que, entre outubro de 2017 e março de 2018, auge do período de chuvas, ou inundaram ou geraram o alerta da Defesa Civil contra possíveis transbordamentos. Em decorrência disso, os belo-horizontinos vivenciaram uma vez mais um cenário de caos, com carros sendo arrastados, pessoas ilhadas, casas alagadas e ruas interditadas.

De acordo com o engenheiro de produção civil, especialista em hidráulica, saneamento e recursos hídricos, e professor do IFMG (Instituto Federal de Minas Gerais) Campus Santa Luzia, Daniel Miranda, um dos principais motivos para as recorrentes inundações em Belo Horizonte é o fato da cidade ser muito impermeabilizada. “Com isso, grande parte dessa água que infiltraria no solo passa a ser drenada pelas vias ou pelos canais e córregos. Além do mais, por ela ser drenada superficialmente em áreas impermeabilizadas e trechos canalizados, isso faz com que a velocidade de trânsito dessa água seja maior já que são materiais lisos, o que resulta em uma grande vazão. Tudo isso acaba deixando a capacidade das galerias e estruturas de drenagem obsoletas com o passar do tempo”.

A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura reconhece que o sistema de drenagem da cidade, em determinadas vias e cursos d’água, não consegue captar e transportar toda vazão de cheia de chuvas intensas, gerando extravasamentos, com alagamentos de vias e inundações de áreas. O órgão explica que, com o passar dos anos, as estruturas existentes em alguns pontos passaram a não ter a mesma resposta de quando projetadas contra cheias, em função da expansão da malha urbana em direção às cabeceiras dos cursos de água e, também, do crescente processo de impermeabilização dos terrenos.

O professor Daniel Miranda também chama a atenção para o próprio relevo da cidade, que dificulta e torna ainda mais complexa as soluções de enfrentamento às inundações. “Belo Horizonte é uma cidade cujo relevo já não favorece, muito acidentado, e com várias avenidas construídas nos chamados fundos de vale. Isso faz com que a velocidade com que a água superficial se desloque seja muito grande”.

No intuito de identificar os trechos críticos ou sujeitos às ocorrências de inundações, e tornar essa informação acessível a todos, a prefeitura de Belo Horizonte elaborou uma Carta de Inundações do município (disponível no site da PBH). Com base em estudos de modelagem hidrológica e hidráulica que permitiram maior conhecimento das bacias hidrográficas da cidade, a carta apresenta as manchas de inundação nos pontos mais suscetíveis em todo o território do município. “A particularidade que essas áreas têm, em geral, é o relevo. Normalmente, grande partes dessas áreas ou estão em lugares baixos, mais encaixados, nos fundos de vale, ou em alguns pontos de confluência, quando temos dois córregos que se encontram, por exemplo. Fora o fato de serem áreas que já são mais adensadas e impermeabilizadas”, explica Miranda.

Com base nos pontos definidos na Carta de Inundações de Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura conta que foram instaladas 975 placas de alerta em todas as regiões da cidade. As placas trazem dizeres do tipo: “Evite transitar neste local em caso de chuva forte”, “Área sujeita a inundação no período chuvoso” e “Jogar lixo e entulho em vias públicas causa inundação nos dias de chuva”.

Córrego Ressaca, na região da Pampulha, à beira de um transbordamento (à esquerda). À direita, uma das 975 placas informativas da prefeitura de Belo Horizonte. (Créditos: Alessandro Borsagli e Estado de Minas).

Resolução do problema

O professor Daniel Miranda não acredita em ações viáveis que fariam com que esse tipo de ocorrência não se repetisse mais em Belo Horizonte. Para ele, o problema é tão complexo que a solução definitiva teria que ser igualmente complexa, com a reabilitação completa de áreas, descanalizações, alternativas de drenagem mais sustentáveis, desapropriações – o que, em alguns pontos, seria algo utópico. “Acho que temos meios para que esse problema não seja agravado. Um bom caminho é a elaboração do chamado Plano Diretor de Drenagem Urbana, com um detalhamento de todas ações relacionadas à drenagem urbana naquele município num horizonte de 30 anos”.

A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informou que a primeira etapa do Plano Diretor de Drenagem Urbana da capital abarcou o período de 1999 a 2001 e teve como principais produtos a análise integrada do Sistema de Drenagem de Belo Horizonte, a caracterização das Bacias Elementares do município, o cadastro de micro e macrodrenagem e a criação do Sistema de Informações Geográficas – SIG-DRENAGEM.

O órgão disse ainda que, em decorrência da conclusão dessa etapa, foi criado o Programa DRENURBS, cujo principal objetivo é a minimização das intervenções nas calhas dos cursos d’água em leito aberto na malha urbana, sempre que possível buscando a preservação das suas condições naturais, saneando-os e desocupando suas margens e as áreas de inundação. Nesse contexto, incluem obras de esgotamento sanitário, drenagem e sistema viário, remoção e reassentamento de população em área de risco e implantação de áreas verdes e de uso público.

O Programa DRENURBS viabilizou também, segundo a pasta, a segunda etapa do Plano Diretor de Drenagem Urbana, que incluíram a elaboração de Diagnósticos Sanitários e Ambientais e Projetos Básicos de 47 bacias elementares do município, a implantação, operação e manutenção de todos os componentes do SIG-Drenagem, Modelagem Matemática Hidrológica e Hidráulica do Sistema de Macrodrenagem das Bacias Hidrográficas dos Ribeirões da Onça e Arrudas, a implantação do Sistema de Monitoramento Hidrológico e Alerta contra Inundações, a implementação do Plano de Contingência para Enfrentamento de Desastres e a elaboração da Carta de Inundações.

Confira mais fotos dos córregos e ribeirões de Belo Horizonte:

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Crédito: Acervo TantoExpresso / Alessandro Borsagli / Estado de Minas


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