Em sua 11ª edição, o ‘Deixem o Onça Beber Água Limpa’ trouxe o tema ‘Viver com o Rio Vivendo’ e foi realizado no último sábado (8) no Novo Aarão Reis, na zona norte de Belo Horizonte, bairro que comemora 30 anos em 2019. O evento celebrou as conquistas para revitalização do Ribeirão Onça e reforçou a importância de continuar a luta por ações de proteção ambiental, despoluição do curso d’água, retirada do esgoto da calha do ribeirão, que é um dos afluentes da Rio das Velhas, e pela melhoria na qualidade de vida da população. Além disso, promoveu o fortalecimento da economia local, através da comercialização de produtos e a valorização da cultura e da educação ambiental por meio de atividades com crianças e adolescentes, moradores do bairro.

Com a participação dos moradores locais e realização do Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (Comupra), em parceria com a prefeitura de Belo Horizonte, Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), CRAS, Projeto Manuelzão, Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), associações, movimentos sociais e escolas públicas e privadas, o evento teve o objetivo de mostrar à população de Belo Horizonte, principalmente os locais, o potencial da região, seja pelo curso d’água, suas praias, cachoeira ou por seus moradores. “Nós estamos aqui confraternizando o que nós realizamos o ano inteiro. O movimento ‘Deixa o Onça Beber Água Limpa’ é uma construção realizada durante o ano e nesse evento a gente sempre se reúne para fazer a confraternização das nossas ações”, explica Maria Luiza Loureira, colaboradora do Comupra, integrante do Movimento ‘Deixa o Onça Beber Água Limpa’ e conselheira do Subcomitê do Ribeirão Onça, do CBH Rio das Velhas.

Crianças de escolas participaram de atividades culturais e aprenderam a plantar mudas de árvores (em cima). Parcerias do Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (embaixo). Crédito: Michelle Parron

Para Itamar de Paula Santos, integrante do Comupra, o evento – realizado todo segundo sábado do mês de junho desde 2008 – não só garantiu resultados e aumentou o engajamento da população com a proteção do Ribeirão do Onça, como também proporcionou a alegria das pessoas. “O que a gente quer é empoderar esse povo e mostrar que esse povo pode ser quem ele quiser. Somos nós a solução e podemos trazer esse olhar para o rio e aprender com ele. Um rio solto, um rio livre mostra do que ele é capaz”, conta Itamar.

Com a participação intensa de estudantes, o evento teve uma outra grande conquista quando passou a integrar o calendário escolar como dia letivo, o que fortaleceu ainda mais o movimento. Para Cléria Rocha, que integra o Comupra e o Movimento ‘Deixa o Onça Beber Água Limpa’, o grande desafio desse ano foi colocar a comunidade como protagonista. “Para levantar tudo isso foi preciso muita ajuda e entendimento dos moradores”, conta Cléria sobre a produção do evento.

À frente com outras mulheres na construção das 18 barracas produzidas com bambus para o evento, além de ajudar na mobilização dos moradores para comercialização dos produtores e alimentos, a moradora Vera Silva, acredita que o evento é uma oportunidade para garantir uma renda extra para a população. “Tem muita gente desempregada no bairro, muito pai de família passando por dificuldades. Com o evento você contribui para as pessoas estarem vendendo e adquirindo uma renda extra e traz pessoas de fora para conhecer o Novo Aarão Reis”, explica a moradora.

Vera que chegou há seis anos no bairro viu sua mãe, uma das fundadoras, lutando há 30 anos para conquistar uma casa própria. “Minha mãe, que veio da Bahia, está aqui desde que a área foi ocupada. Eu vinha sempre visitar e via as barracas de plástico e as cobras passando pelas barracas que eles dormiam. Isso aqui era mata virgem (aponta para área onde estava acontecendo o evento) e a gente entrava aqui para caçar lenha”.

Vera Silva, moradora do Novo Aarão Reis, destaca a importância da despoluição do Ribeirão Onça. Crédito: Michelle Parron

Além de completar 30 anos, o Novo Aarão Reis vive um momento particular que é a retirada e indenização de cerca de 150 famílias da área de risco na encosta do ribeirão, um local que já enfrentou diversas inundações em períodos de chuva.

Vera, que aprendeu a amar o bairro por causa da luta do povo, acredita que há muitas coisas para serem conquistadas e uma delas é a despoluição do ribeirão. “Assim que despoluir o rio eu creio que a situação vai melhorar. Nós temos muita coisa bonita aqui no bairro, as pessoas que não tem a sensibilidade de perceber o local onde o Novo Aarão Reis está localizado. Nossas crianças aqui tem problema respiratório por conta da poluição e tem muito lixo na beira do córrego. Seria bom se não canalizasse o córrego e sim limpasse, e a gente ia ver essa água descendo. Mas infelizmente a população não vai ajudar e vai jogar o lixo. As pessoas confundem pobreza com sujeira e acha que as duas andam juntas e não andam. A pessoa pode muito bem ser desprovida de dinheiro e zelar pelo patrimônio. O Novo Aarão Reis é um patrimônio nosso”, aponta a Vera Silva.

Veja as fotos do evento:

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O esgoto ainda é o grande vilão do Ribeirão do Onça

Considerada uma das bacias que mais polui o Rio das Velhas, a bacia do Ribeirão do Onça possui ocupações irregulares e recebe esgoto sem tratamento, o que provoca a degradação ambiental ao longo do curso d’água. “Nós ainda temos uma carga importante de esgoto que está sendo depositada no rio e já foi retirada uma quantidade substancial, mas a nossa intenção é que se remova todo esse esgoto. E hoje nós estamos aqui, mais uma vez, celebrando as conquistas que já tivemos, não perdendo a mobilização e entendendo que o (Ribeirão) Onça é fundamental para a bacia do Rio das Velhas e que nós queremos ele limpo e revitalizado”, afirma Marcus Vinicius Polignano, presidente do CBH Rio das Velhas.

Marcus Vinicius Polignano, presidente do CBH Rio das Velhas, fala sobre o lançamento de esgoto no Ribeirão Onça. Crédito: Michelle Parron

Apesar do avanço na retirada do esgoto que cai direto na calha do ribeirão, de acordo com o presidente do Comitê ainda resta 40% que é lançado no curso d’água e que, por conta da sua pequena vazão, impactam diretamente na qualidade da água do ribeirão. Para reverter esse cenário, o CBH Rio das Velhas, através do Subcomitê Ribeirão do Onça, já realizou projetos hidroambientais como o cadastro e recuperação de nascentes e a valorização dos cuidadores de nascentes.

Um compromisso que vai além do trabalho das instituições e envolve a sociedade, a revitalização do Ribeirão Onça é um grande desafio para a Copasa. “Não dá pra negar que ainda tem muito problema olhando na beira do ribeirão, mas, fazendo um comparativo, nós avançamos muito. Mas ainda tem um caminho a percorrer e esse caminho não está só nas mãos da Copasa. Ele depende desses movimentos sociais, dos movimentos de luta por moradia que permitem conquistas que vão repercutir no rio”, aponta Rogério Sepúlveda, assessor da Diretoria Metropolitana da Copasa.

UTE Ribeirão Onça

A Unidade Territorial Estratégica (UTE) Ribeirão Onça localiza-se no Alto Rio das Velhas e é composta pelos municípios de Belo Horizonte e Contagem. A Unidade possui uma área de 221,38 km² e sua população chega a 1,3 milhões de habitantes. Os principais cursos d’água da UTE são o Ribeirão do Onça, Ribeirão da Pampulha, Córrego da Ressaca, Ribeirão do Cabral, Córrego São João e Córrego da Isidora.

A Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Onça é também considerada a que mais polui o Rio das Velhas. Parte dos 36,8 km de extensão do Ribeirão estão ocupadas irregularmente, provocando a degradação ambiental ao longo do curso d’água.

Juntamente com o Ribeirão Arrudas, o Onça encontra-se na região mais populosa da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, em Belo Horizonte, Contagem e Sabará. Os ribeirões Onça e Arrudas são responsáveis pela drenagem da maior parte dos esgotos da Região Metropolitana de Belo Horizonte e sofrem com a diminuição das áreas de drenagem natural e ocupação desordenada de encostas e fundos de vale, devido a sua intensa ocupação.

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Michelle Parron
Fotos: Michelle Parron

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