O mundo desacelerou. Com o isolamento e a suspensão das atividades comerciais e industriais em diversas países, o meio ambiente respondeu. Na China, a poluição do ar diminuiu, em Veneza as águas ficaram mais claras e na ilha de Sardenha, na Itália, golfinhos voltaram a nadar próximos à costa. Em Belo Horizonte, a natureza parece também ter dado os seus sinais. Em um vídeo que circulou pelas redes sociais na semana passada, a água do Ribeirão Arrudas aparece com aspecto mais límpido do que o de costume.

O rio que nasce no município de Contagem, na região metropolitana, e encontra o Velhas em Sabará, normalmente carrega em sua calha uma enorme quantidade de poluição adquirida durante o seu percurso pela capital mineira. Será que a pandemia teria realmente impactado em suas águas? O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano, acredita que a desaceleração da cidade pode ter influenciado sim na água do Arrudas. “Com o comércio e a indústria parados, percebe-se que tirando essas fontes poluidoras há um efeito aparente em relação à qualidade da água. Muitos esgotos de atividades comerciais, principalmente na região Central, não são interceptados pela Copasa e caem direto na rede pluvial, sem tratamento”, explica.

O vídeo do Arrudas também chamou a atenção do geógrafo Rodrigo Lemos, presidente da Câmara Técnica de Outorga e Cobrança (CTPC) do CBH Rio das Velhas e membro do Subcomitê do Ribeirão Arrudas. Para tentar entender o motivo da mudança repentina, ele explica que as retificações e canalizações, os esgotos sanitários e a poluição difusa são três pontos que impactam na qualidade do Arrudas. A poluição difusa, por exemplo, envolve todo o material que é carreado pelas chuvas lançado no curso d’água, que vem desde o resíduo sólido, partículas de queima de combustível de carros e materiais do asfalto, por exemplo. “Se a gente pensar em esgoto sanitário, a quantidade de pessoas utilizando é a mesma. Agora o que mudou foi, principalmente, o lançamento de efluentes das atividades produtivas e o carreamento dessa poluição difusa. As avenidas sem trânsito impactam de forma siginificativa a qualidade do ar e, consequentemente, a qualidade das águas”, aponta Rodrigo Lemos.

Segundo o Plano Diretor de Recursos Hídricos do Rio das Velhas, publicado em 2015, a principal fonte de poluição da região metropolitana é a poluição difusa, que gera impactos nos afluentes e no próprio Rio das Velhas até Várzea da Palma, município onde está localizada a sua foz. Ainda que para entender as dimensões que envolvem a melhora na qualidade da água do Arrudas seja preciso uma análise mais detalhada envolvendo uma série de fatores, essa linha de análise faz muito sentido para o geógrafo. “Os grandes eventos de mortalidade de peixes no Velhas que a gente teve recentemente, por exemplo, foram por conta de poluição difusa. Quando a gente tem essa diminuição da intensidade da ação antrópica, ou seja, estamos saindo menos de carro, empresas estão produzindo menos, a quantidade de material que é continuamente carreado para o rio é muito inferior. E isso, com certeza, gera um impacto positivo para a qualidade das águas”, explica.



Marcus Vinícius Polignano (à esquerda)/Rodrigo Lemos (à direita).

Segundo a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), os dados coletados no monitoramento rotineiro realizado na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Arrudas mostram que os números não tiveram alteração significativa. O período de análise avaliado, de acordo com empresa, é curto para observar alguma alteração. A vazão média do esgoto na ETE Arrudas, se mantém nos mesmos patamares dos últimos três meses, bem como a quantidade de resíduos sólidos que chegam na unidade. As variações desses patamares estão dentro da normalidade.

Veja o comparativo realizado entre março de 2019 e março de 2020 na ETE Arrudas:

Vazão do esgoto da ETE Arrudas

 Março 2019  Março 2020
 2,37 m³/s  2,30 m³/s

Volume de resíduos sólidos retidos nas grades

 Março 2019  Março 2020
 9,38 toneladas  7,35 toneladas

A Copasa afirma ainda que a unidade trabalha com uma capacidade média de remoção de demanda bioquímica de oxigênio [DBO] de 80%, 10% acima da exigência da legislação.


Veja as fotos do Ribeirão Arrudas:

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Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Michelle Parron
*Fotos: Bianca Aun e Michelle Parron

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