O índice de perda de água no abastecimento realizado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) ainda é um desafio a ser enfrentado. Se no início da crise hídrica que assolou o Brasil em 2015 as perdas no sistema, com vazamentos e ligações clandestinas, eram de cerca de 40%, até o atual momento houve pouca evolução. Segundo a empresa, atualmente 38% da água tratada é perdida em função de vazamentos, captação irregular (gatos) e erros na medição dos hidrômetros.

O diretor de operações da Copasa, Rômulo Perilli, estima que 12% da água tratada é perdida com as ligações irregulares. “Um importante componente das perdas de água tratada são as ligações clandestinas. Passamos por um momento de crise econômica no Brasil, o que impacta negativamente, pois muitas pessoas encontram mais dificuldades de manter suas contas em dia e dentro do sistema da Copasa”, afirma.

Atualmente, a companhia afirma que existem na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) cerca de 240 mil imóveis que têm rede de abastecimento na porta, mas não têm ligação formal com o sistema de distribuição. Além disso, outros 30 mil potenciais consumidores estão em áreas de ocupação, onde não há regularização fundiária. “Temos muitas casos em que o morador já teve ligação e que por falta de pagamento foi cortada. Mas essas pessoas continuam abastecidas, porque não existem 240 mil fontes alternativas de água na região e nós temos dificuldades de fazer esse corte”, afirma Perilli.

Além disso, o diretor da Copasa falou sobre as dificuldades que a empresa enfrenta para diminuir as perdas. “Os processos bem sucedidos de diminuição de perdas de água ocorreram em vários países em até 20 anos. É preciso lembrar que Belo Horizonte encontra-se em uma região de muitos desníveis geométricos. Entre o ponto mais alto da cidade ao mais baixo a diferença é de 600 metros, o que causa uma grande variação de pressão, aumentando as chances de ocorrer perdas de água”, explicou.

Rômulo Perilli acrescentou ainda que a estatal instalou válvulas para diminuir a pressão da água e com isso reduziu bastante a quantidade de vazamentos, mas, ao mesmo tempo, aumentaram as ligações clandestinas e uma situação praticamente anulou a outra, diminuindo os resultados na diminuição de perda de água.

De acordo com Rômulo Perilli vencer o desafio da redução de perdas não será fácil. “Além das medidas realizadas pela Copasa, a população precisa se conscientizar de que é preciso reduzir o desperdício”, disse.

Da esq. p/ dir.: Captação de Água de Bela Fama, em Nova Lima. Belo Horizonte vista da Serra do Curral. Ribeirão Onça entre Contagem e Belo Horizonte. Crédito: Bianca Aun e Léo Boi.

SAAE Itabirito reduz índice

O SAAE (Serviço Autônomo de Saneamento Básico) de Itabirito também sofre para diminuir as perdas de água. Por isso, adotou um conjunto de medidas que compõem o “Programa de Redução de Perdas” (PRP) e que se organizam em dois grandes eixos: combate às fraudes e controle de vazamentos – sendo o maior causador de vazamentos a pressão de água devido a cidade ter uma característica predominante em seu relevo de morros.

De acordo com o técnico do Setor de Perdas do SAAE Itabirito, Whilison Marques Mendonça, o trabalho começou com a setorização dos bairros. “O primeiro a receber a Programa foi o bairro Pedra Azul com a instalação de registros, uma Válvula Redutora de Pressão (VRP) e um macromedidor de vazão instalado próximo ao reservatório de água que consegue aferir o volume de água distribuído na região. Cruzando os dados com o consumo de água dos clientes, o SAAE Itabirito conseguiu mapear as áreas com mais chances de registrar perdas e vazamentos”, esclareceu.

Segundo o técnico do Setor de Perdas, no distrito de Acuruí, por exemplo, já foi observado uma pressão de 165 MCA (metros de coluna d’água), um valor três vezes maior do que a norma da ABNT recomenda, que é de 40 MCA. “Com a instalação desses aparelhos foi possível também diminuir a pressão, atendendo a norma da ABNT e melhorando a pressão de água para os moradores. Além disso, vamos conseguir detectar com maior facilidade e assertividade as fraudes”, disse.

O programa de redução de perdas conseguiu reduzir de 40% para 31,59% o índice de perdas em 2018 e vai muito além. Uma vez implantado, o SAAE de Itabirito conseguirá conhecer todas as zonas de pressão e vazão setorizadas da cidade, e com isso fazer uma gestão ainda melhor do sistema de abastecimento com indicadores, tendências e ter um nível satisfatório de estanqueidade na cidade.

Ainda no escopo do combate às perdas, o SAAE Itabirito também tem se esforçado para atualizar e digitalizar os cadastros das redes e dos registros existentes nas regiões. Com as informações mais recentes à disposição, o monitoramento automático das redes e reservatórios pelo Centro de Controle Operacional (CCO) e a programação para troca de tubos e conexões, que quando falham dão origem a vazamentos e aumentam as perdas, passaram a ser mais simples e rápidas.

Da esq. p dir.: Rio Itabirito, na região do alto Rio das Velhas. Vista do município de Itabirito. Estação de Tratamento de Esgoto do Marzagão. Crédito: Bianca Aun e Ohana Padilha

O que é a perda de água?

De acordo com a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), chama-se de perda real aquele volume de água desperdiçado antes de chegar às unidades de consumo, ou seja, as perdas reais se referem à toda água tratada que se perde no sistema de distribuição.

Além disso, têm-se as perdas aparentes, também conhecidas como perdas comerciais. Elas são consideradas como o volume consumido e não computado pelas operadoras.

Dessa forma, quando comparamos o Brasil com alguns países desenvolvidos, é possível notar o grande espaço para mudanças. Cidades da Alemanha e do Japão possuem índices de perdas em torno de 11% e a Austrália possui 16%.

Com valores médios decrescentes, o Brasil se movimenta em velocidade baixa. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) o índice nacional de perda de água no Brasil esta em uma média de 36,7%.

Com isso, as perdas de água representam um dos maiores desafios e dificuldades para a expansão das redes de distribuição de água no Brasil, o que também impacta na expansão do esgotamento sanitário no país devido às perdas de receita.


Mais informações:

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
comunicacao@cbhvelhas.org.br

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