“A arte sempre deu sua contribuição no contexto do que acontece com o homem, seja na história, na política ou no retrato da sociedade. De alguma forma, a arte ajuda a tocar as pessoas; uma das suas funções é justamente a provocação. Assim como é um registro das coisas, uma memória”.
De início, a ideia era que a obra do artista plástico JB Lazzarini evidenciasse toda a beleza do universo natural, suas múltiplas cores, formas e simbolismos que tanto caracterizam essa porção do mundo chamada Minas Gerais. Suas multicoloridas telas, que flertam com a poesia, deveriam sugerir leveza, alegria e intimidade com a natureza.
Mas eis que a lama nos tomou. E tomou de marrom também a obra de JB. A vida deu lugar à morte e tudo o que se imaginou para essa seção da Revista Rio das Velhas, por consequência, foi soterrado. Em seu lugar, brota uma arte de protesto, de indignação, manchada de sangue. “A arte sempre deu sua contribuição no contexto do que acontece com o homem, seja na história, na política ou no retrato da sociedade. De alguma forma, a arte ajuda a tocar as pessoas; uma das suas funções é justamente a provocação. Assim como é um registro das coisas, uma memória”, revela o artista.
“Dor, morte. A vida não vale essa lama.”
Acrílica sobre tela, 50 x 80 cm
JB Lazzarini é natural da Bacia do Rio das Velhas – nasceu em Belo Horizonte, em 1967. Mas grande parte da sua infância se deu na Bacia do Rio Santo Antônio, mais precisamente nas cidades de Ferros e Conceição do Mato Dentro, onde nasceram seu pai e mãe, respectivamente.
Foi acompanhando o pai em pescarias, ainda criança, que Lazzarini desenvolveu o amor pelo meio ambiente. Numa época em que o discurso e as preocupações ecológicas eram ainda embrionárias, já estavam eles a coletar o lixo que encontravam, a soltar os peixes pequenos e a zelar por um espaço que é de todos. “Sempre gostei de mato. Por isso é tão difícil ver a situação que vivenciamos hoje, principalmente aqui no Brasil, sobre as questões ambientais: os defensivos agrícolas, a opressão às comunidades dos índios e quilombolas, o sucateamento de instituições como o IBAMA e FUNAI. Mas continuamos a acreditar e defender tudo que envolve nosso ecossistema, porque a natureza sempre dá sua resposta”, diz.
As referências ao ambiente natural, segundo conta, se manifestam em sua obra de maneira quase que inconsciente. “De forma intuitiva, como elementos de pesquisa e construção do trabalho a partir do que esse universo da natureza nos apresenta em relação a cores, movimento e o próprio desenho com toda sua forma e poesia”, revela.
As imagens sobre a tragédia de Brumadinho, criadas exclusivamente por JB Lazzarini para a Revista Rio das Velhas, revelam um universo de dor, morte, devastação. Um cenário que ele espera não vivenciar nunca mais. “Uma coisa muito triste imaginar pessoas e animais sendo soterrados pela lama, pelo rejeito tóxico, sem ter como escapar. As vidas não voltam, as pessoas não voltam mais para suas famílias, quanto tempo levará para os Rios Doce e Paraopeba voltarem a ser o que eram? Voltar a ter vida novamente? Quanto tempo Minas Gerais continuará sendo refém das mineradoras, da irresponsabilidade como tratam assuntos tão sérios e graves?”, indaga.
Para conhecer mais sobre o artista, acesse: www.jblazzarini.com
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiz Ribeiro
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