Ponto 2: É dever da sociedade e do poder público garantir água de qualidade e quantidade para esta e para as futuras gerações

Texto: Ohana Padilha

Também conhecida como olhos d’água, cabeceira mina ou fonte, a nascente é o local onde um curso d’água começa. É o início da vida de um rio.

A nascente é o local de primeira importância na bacia, pois marca a passagem da água do subterrâneo para a superfície. Esse fluxo de água que brota de forma tão tímida e discreta possui um papel fundamental na manutenção do ciclo hidrológico e do meio ambiente. Sendo assim, proteger a nascente é de grande importância para o abastecimento dos riachos, córregos e cursos que, por sua vez, abastecem os rios. Além disso, a sua proteção reflete na melhora da qualidade da água de toda uma bacia.

A partir da campanha do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), que promove o debate de que a água é fundamental para a vida, e, portanto, deve ser fornecida com quantidade e qualidade para todos os seres vivos, demos voz a pessoas que colaboram e trabalham em prol das nascentes do Rio das Velhas. Essas pessoas, reconhecidas como cuidadores de nascentes, nos deram depoimentos que destacam a importância da preservação.

Foram entrevistados ao longo da Bacia do Rio das Velhas, três pessoas que trabalham, lutam e sonham por um rio melhor. Cada uma delas convive com realidades e condições diferentes, sejam elas climáticas, vegetativas, financeiras e até políticas, mas todas têm a mesma perseverança de que um dia terão um rio melhor para suas vidas e as futuras gerações. Sonham com um rio limpo e cheio de vida!

Dona Júlia, Belo Horizonte, UTE Ribeirão Onça

Na região do Ribeirão Onça, Dona Júlia, como é conhecida no bairro Ribeiro de Abreu, em Belo Horizonte, cuida de uma nascente da região há 35 anos. A história de D. Júlia com a nascente iniciou quando ao chegar no bairro Ribeiro de Abreu não havia o serviço de abastecimento da Copasa nas casas. Assim, ia até a fonte localizada no final da sua rua e trazia no balde, a água para o alimento da sua família. “Usamos a água da nascente por dois anos, depois com a chegada da água encanada paramos de usar a nascente, mas sempre íamos até lá dar uma olhada”, afirma a assídua cuidadora.

Com o passar dos anos, D. Júlia fala que a área da mina d’água começou a ser ocupada indevidamente e pisoteada por animais e, então, procurou o Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (Comupra) forte liderança da região, para ajudá-la na conservação.

A nascente foi mapeada e cadastrada pelo projeto “Valorização das Nascente Urbanas” que aconteceu nos anos de 2011 e 2012, por meio do Subcomitê Ribeirão Onça. E logo depois começou a iniciativa da implantação do Parque do Onça, a área planejada para o parque inclui a nascente.

No Dia Mundial da Água (22 de março) realizou-se na área da nascente, ações de preservação como o cercamento e plantio. Nesse evento, a nascente recebeu o nome de “Nascente Fundamental” por colaborar com águas limpas para o Ribeirão. Nesse contexto, D. Júlia foi indicada ao Prêmio Bom Exemplo da Rede Globo. “Foi muito bom. Agora o bairro ficou conhecido e acredito que a nascente está servindo de exemplo para outras pessoas que possuem nascentes próximas a sua casa”, reflete.

Segundo a cuidadora, quase todos os dias vai até a nascente para conferir o estado da área, coleta o lixo e coisas que podem cair na mina e rega as árvores no entorno.

Dona Júlia fala que espera que o seu exemplo sirva de modelo para outras pessoas e deseja que o parque garanta a vida da nascente. “Quero mostrar para o povo que tem jeito de cuidar da água”.

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Nascente cuidada por Dona Júlia. Crédito: Ohana Padilha

Nivaldo Azevedo, Várzea da Palma, UTE Guaicuí

Ao pé da Serra do Cabral, Nivaldo Azevedo mora com a família em sua propriedade da zona rural de Várzea da Palma. Na propriedade há uma nascente preservada que é a fonte de subsistência da família.

Em entrevista Nivaldo conta a história de produção do local. Tempos atrás o pai de Nivaldo plantava no entorno da nascente e depois o mesmo local passou a ser um espaço de pasto para o gado, devido a isso, a mina diminuiu bastante a sua produção de água. Ao parar com essas atividades, depois de algum tempo a mata da nascente reflorestou e a quantidade de água produzida se elevou. “Preservando temos uma água mais constante porque quando desmatamos a água seca”, reflete Nivaldo.

A nascente contribui com águas limpas para o córrego Caco de Louça que encontra com o córrego Bananal e depois no Ribeirão Corrente, o qual deságua no Rio das Velhas.

Atualmente, a mina d’água é usada para o sustento da família, onde bebem, cozinham e regam as plantas da casa. “Vou lá para limpar a nascente e para beber da água de boa qualidade”, conta o morador. Sobre a água de qualidade, a nascente situada na fazenda é abastecida pela área das veredas da Serra do Cabral “A região é uma caixa d`água que está sendo ameaçada pelo cultivo de eucalipto. Estou preocupado pois querem plantar eucalipto na área das veredas que abastecem as nascentes”, alerta Nivaldo.

O cuidador deixa uma mensagem. “As gerações futuras devem pensar melhor nos usos da água. Água é vida e sem água fica difícil”, afirma.

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“Preservando temos uma água mais constante porque quando desmatamos a água seca”, reflete o cuidador de nascente, Nivaldo. Crédito: Ohana Padilha

Odilon Lima, Itabirito, UTE Rio Itabirito

Na região do Alto Rio das Velhas, no distrito de Acuruí em Itabirito, Odilon Lima mora em uma fazenda com área preservada de 300 hectares. Odilon conta que adquiriu o terreno há 30 anos e que os antigos proprietários não cultivavam e nem cuidavam da área, pois a propriedade sofria com queimadas frequentes para a realização de pastos. Odilon afirma que não tem interesses de produção e então a terra foi se recuperando aos poucos e com o tempo. “Locais que tinham uma vegetação rasteira, em 30 anos se transformaram em mata fechada”, explica.

A área preservada tem o nome de Fazenda Aurora e possui 13 cabeceiras. “As nascentes são preservadas e possuem a proteção de matas ciliares, além disso, as águas nascidas na fazenda formam uma cachoeira”, afirma o cuidador. Além da cachoeira, parte das nascentes formam um córrego que deságua no Ribeirão Manso, o qual encontra com o Rio das Velhas vale ressaltar que o Manso tem águas altas e que corre limpo com água cristalina durante todo o ano. Além disso, outros dois córregos formados na fazenda caem diretamente no Rio das Velhas.

Grande defensor da técnica das barraginhas, Odilon informa que a fazenda possui aproximadamente 40 e que pretende construir mais 70. As barraginhas conseguem conter enxurradas em época de chuva e auxiliam no sentindo de regularizar o fluxo de água que certamente levanta o lençol freático, o que colabora para a manutenção da produção de água das nascentes em tempos de seca.

Finalizando a entrevista, Odilon fala que a sua geração tem uma grande dívida com as futuras, pois no passado as pessoas degradaram bastante o meio ambiente. O cuidador acredita que a sua geração deve deixar um processo de recuperação já em andamento para as próximas. “A água para mim é um alimento vivo, você percebe isso só pelo movimento da água”, reflete Odilon.

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As nascentes da propriedade ajudam a bastecer córegos afluentes do Rio das Velhas. Crédito: Ohana Padilha


Que esses bons exemplos de cuidado com a água e a vida possam se multiplicar em toda a Bacia do Rio das Velhas. É dever de todos preservá-las para o bem estar do rio e de todos os seres vivos!

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Mais informações e fotos em alta resolução:Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas

comunicacao@cbhvelhas.org.br

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