Os filmes ‘Águas Sagradas’ e ‘Felicidade’, produzidos em uma Oficina de Cinema do projeto de Valorização de Nascentes Urbanas da Bacia do Ribeirão Onça, foram selecionados para 21ª edição do forumdoc.bh, festival de filmes documentários etnográficos que abordam temas políticos, sociais e sobre diversidade cultural. A mostra acontece entre os dias 23 de novembro e 02 de dezembro, no cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
‘Águas Sagradas’ traz histórias, cantos, cultura e tradições do Quilombo Mangueiras, na região norte da capital mineira. As águas da nascente e do córrego que margeia o quilombo, além de presentes na vida cotidiana dos moradores, são usadas para preparar a festa das Yabás, uma comemoração para as Orixás femininas.
Já ‘Felicidade’ é um retrato cotidiano do bairro Jardim Felicidade, também localizado na região norte de Belo Horizonte, a partir das relações de seus habitantes com o córrego Tamboril e duas de suas nascentes, muito presentes e importantes na paisagem e na vida coletiva local.
Ambos os curtas-metragens foram produzidos, no primeiro semestre deste ano, pelos alunos participantes de uma oficina de cinema e vídeo do projeto de Valorização de Nascentes Urbanas da Bacia do Ribeirão Onça, que promoveu ações de recuperação e revitalização em um total de nove olhos d’água da região.
Amanda Russi foi uma dessas alunas. Moradora do Quilombo Mangueiras, ela dirigiu o filme ‘Águas Sagradas’. Segunda ela, a iniciativa foi de extrema importância para a manutenção e preservação da cultura local, de matriz africana. “[O filme] representa a importância de não deixar morrer a nossa cultura. Nós conseguimos eternizar um pedacinho da nossa história, da nossa essência, nesse filme. Foi algo mágico”.
Os filmes contaram ainda com a parceria da Mutum – Grupo de Pesquisas sobre Docência, Educação e Cinema e Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
À esquerda, cena de ‘Águas Sagradas’. À direita, em baixo, gravação de ‘Felicidade’; em cima, oficina de cinema e vídeo.
O processo
Gustavo Jardim é realizador audiovisual, arte educador e foi quem esteve à frente das oficinas. Ele explicou que os encontros – destinados a alunos de escolas públicas, líderes comunitários, moradores, professores, interessados em audiovisual e membros da rede de ações em prol do Ribeirão do Onça – contaram com a exibição de filmes, de exercícios para se criar intimidade com os equipamentos audiovisuais, além do repasse de técnicas para a elaboração de roteiro.
Ele destacou ainda como cada obra conseguiu refletir os costumes e modos de vida que circundam aquele território compartilhado com a mina d’água. “Foi muito interessante ver como cada grupo trouxe uma proposição que tirava um pouco a nascente da questão objetiva de ser só uma nascente, e ligava essa ideia à vida das pessoas. E isso é o que está sendo traduzido nesses filmes e que os roteiros conseguiram trazer à tona: a vida que envolve essas nascentes”.
Assista ao filme ‘Felicidade’:
Assista ao filme ‘Águas Sagradas’:
O festival
Há 21 anos, o forumdoc.bh. é dedicado a difundir o cinema documentário e etnográfico, e fomentar o debate acerca deste modo de realização por meio de oficinas, seminários e um extenso fórum de debates. O festival se consolidou como referência nacional e estrangeira dentre teóricos, cineastas e pesquisadores do cinema documentário, além de se tornar fundamental espaço de formação audiovisual no âmbito da cidade. Suas mostras de extensão acontecem em regiões periféricas ou descentralizadas na cidade e a itinerância de parte da programação é levada a diversos municípios do interior do Estado.
Valorização de Nascentes Urbanas
O Projeto de Valorização das Nascentes Urbanas na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Onça foi financiado pelo CBH Rio das Velhas com os recursos da cobrança pelo uso da água da bacia. A ação teve como foco a execução de intervenções em nove nascentes pré-selecionadas, bem como a promoção de atividades de educação ambiental e a realização de campanhas de amostragem para conhecimento da qualidade das águas nas nascentes.
Ribeirão Onça
O Ribeirão Onça é um afluente da margem esquerda do Rio das Velhas e tem como principais afluentes o córrego Cachoeirinha e o Ribeirão Izidora que recebe os impactos diretos da ocupação de Venda Nova e região norte de Belo Horizonte. A Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Onça ocupa parte da cidade de Contagem e da região norte de Belo Horizonte é considerada a que mais polui o Rio das Velhas. Sua bacia abriga mais de um milhão de pessoas e em parte dos 36,8 km de extensão do Ribeirão, tem suas margens ocupadas irregularmente, provocando a degradação ambiental ao longo do curso d’água.
Juntamente com o Ribeirão Arrudas, o Onça encontra-se na região mais populosa da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, em Belo Horizonte, Contagem e Sabará. Os ribeirões Onça e Arrudas são responsáveis pela drenagem da maior parte dos esgotos da Região Metropolitana de Belo Horizonte e sofrem com a diminuição das áreas de drenagem natural e ocupação desordenada de encostas e fundos de vale, devido a sua intensa ocupação.
Mais informações:
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
comunicacao@cbhvelhas.org.br
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